História da Asia Motors do Brasil

INTRODUÇÃO

Asia Motors era uma fábrica de automóveis fundada pelo governo sul coreano em 02 de julho de 1965 com objetivo de criar veículos pesados (ônibus e caminhões) e militares. Sob licença da Fiat, produziu o Fiat 124 entre 1969 a 1975. Foi adquirida pela Kia Motors em 1976. O mercado externo onde a Asia Motors obteve maior êxito comercial provavelmente o Brasil, sobretudo com a importação dos modelos Towner e Topic nos anos 90. Além destes modelos, também foram importados o micro-ônibus AM-825, o jipe Rocsta e SUV Galloper (*). A montadora coreana apresentou 3 veículos conceituais no Seoul Motor Show, a minivan Neo Mattina e o jipe Retona em 1995 e o monovolume ARV em 1997.


MODELOS E VERSÕES IMPORTADAS PARA O BRASIL
Towner 92_95 01b
Asia Towner Truck 01

Towner (1993-1999)
Versões: Van (passageiro), Coach (furgão), Truck (Pick-Up) (1993-1994)
Truck (Pick-Up), Panel Van ou Glass Van(Furgão com área envidraçada), Coach (Van Básica) e Coach Full (Van “completa”): 1995
Obs: Importada com motor 0.8l gasolina de 40cv com carburador eletrônico. Recebeu injeção eletrônica em julho 1998, e passou da ter 43cv [1] .

Topic (1994-1999)Asia Topic J2 01B

Versões: Hi-Topic, Hi-Topic Premium, STD (1994)
STD, Van, Full (Van completa) (1995)
Luxo e Super Luxo 2.7 Diesel (1996-1999)
Obs: Sempre foi importada com motor 2.7l Diesel de 75cv.

AM-825 (1994-1998) Asia AM-825 01
Versões: Luxo e Super Luxo com motor 4.0 Diesel de 100cv. As configurações internas variavam entre as versões furgão (importada em 1994) 12, 16, 17 e 25 passageiros. Tinha apenas 6,23m de comprimento.

Rocsta (1994-1995)
Versão: GT 4×4 2.2l Diesel de 72cv.Rocsta 90-97 01b

Galloper (1998-1999)
Versões: Luxo, Super Luxo 2.5l diesel de 85cv.
Luxo, Super Luxo (com opção de câmbio automático ou manual) 3.0 V6 gasolina de 161cv.
(*) Curiosamente o Galloper, produzido pela Hyundai Precision (divisão do grupo Hyundai que produzia veículos oriundos da Mitsubishi) foi importado por 2 empresas no Brasil:Asia Galloper II 01
1ª semestre de 1998 pela Hyundai
A partir de setembro passou a ser importado pela Asia Motors do Brasil [2], pois a Hyundai deixou oficialmente o mercado brasileiro no 2º semestre de 1998 voltando as atividades apenas no 3º trimestre de 1999 com um novo parceiro comercial.


TRAJETÓRIA NO MERCADO BRASILEIRO

Filiou-se a Abeiva em setembro de 1993 com planos de vendas agressivos (vender 5.000 carros em 1994), em segmentos não explorados pelas grandes montadoras instaladas no Brasil (Volkswagen, Fiat, Chevrolet e Ford). Sua estratégia era oferecer produtos com bom custo benefício a preços bem competitivos [3] .

Em setembro de 1994, o Ministro da Fazenda Ciro Gomes anunciou a diminuição da alíquota cobrada para veículos importados (de 35% para 20%), o que aqueceu ainda mais o mercado de importados, já que houve redução no preço de cerca de 10% [4] . Em fevereiro de 1995, esta taxa foi elevada para 32%, o que elevou o preços de veículos importados entre 7% a 10% [5] . Em 29 de março de 1995, houve um novo aumento na alíquota para veículos importados, que passaram a pagar 70% de imposto, o que em média elevou os preços em 35% [6] . Por conta desse súbito aumento (que influenciou também nos preços de veículos nacionais), diversos modelos que haviam sido lançados a pouco deixaram de ser importados subitamente, como o Rocsta, que deixou de ser oferecido em maio. Em agosto, a Asia Motors apresentou na imprensa seu novo logotipo. Neste ano foram vendidas cerca de 8.000 vans do modelo Towner [7]. Com o sucesso comercial, a marca investiu em propagandas em diversos tipos de mídia [8] , algumas propagandas em vídeo podem ser vistas no YouTube (a maior parte delas foi feita entre 1995 a 1998).
Em 1996, as vendas brasileiras representavam 10% do faturamento da empresa coreana . No 19ª edição do Salão do Automóvel de São Paulo, realizada em 1996, a Asia Motors foi a 2ª empresa que mais vendeu veículos, vendendo 293 veículos (sendo 176 do modelo Towner) [9].

A partir de 1997 algumas unidades dos modelos Asia Motors já apresentam o logotipo da Kia Motors na chave e na tampa do volante (algo que foi totalmente incorporado a linha a partir de 1998). Neste ano o mercado de vans grandes ganha novos competidores inéditos (Fiat Ducato, Mercedes-Benz Sprinter e Volkswagen Eurovan) além do van Chevrolet Space Van, que é a Renault Trafic produzida na Argentina com a logomarca Chevrolet [10].

De 1993 a 1998 cerca de 40.684 modelos Towner, em suas diversas configurações, já haviam sido vendidos no Brasil.

A maior parte das concessionarias da Asia Motors faliram ou mudaram de marca representante entre 1999 a 2000 (pois ainda havia um pequeno estoque de veículos 0km ano 1999 disponível para venda). Em 2003, ainda era possível encontrar peças em alguns poucos concessionários que sobreviveram [11] .

Em julho de 2001, a coreana SssangYong voltou a comercializar seus veículos no Brasil e chegou a importar algumas poucas unidades da van Istana a partir de novembro daquele ano, (apenas modelos 2001 e 2002), [24]. Em 2005 a Kia Motors deixou de importar a van Besta e deixou “órfãos” os consumidores das vans coreanas (menores e mais baratas que as vans de origem europeias, como Renault Master, Fiat Ducato ou Mercedes-Benz Sprinter). Em 2007, com a chegada de algumas marcas chinesas no mercado [12] , o antigo consumidor da Asia Motors pode ser novamente atendido como vans de pequeno porte importadas pela CN Auto (que importa modelos da marca Hafei e Jimbei), Effa (também importador de produtos Hafei) e Chana/ Changan. Em 2013, 2 novas montadoras chinesas, Shineray e Rely passam a comercializar vans e pick-ups de pequeno porte. Em julho de 2014, foi a vez da Lifan, que começou a importar o pequena pick-up Foison.


CRISE FINANCEIRA

Em 1997 a matriz coreana (ligada a Kia Motors) entra em colapso financeiro, e só não param de produzir veículos pois foram resgatadas com dinheiro do Korean Development Bank (uma espécie de BNDES sul-coreano). Em outubro de 1998, no 3º leilão, Kia e Asia Motors são compradas pela Hyundai (depois de vencer uma concorrência com a Ford, que juntamente com a Mazda era dona de 17% das ações da Kia) [13].

A Hyundai (que também estava passando por problemas financeiros sérios) resolve dissolver a marca Asia Motors (já que durante a crise de 1997 ela praticamente desapareceu da maioria dos mercados externos em que ela atuava) sendo que provavelmente apenas o Brasil recebeu seus produtos em 1999 (em quantidade bem inferiores aos anos anteriores), pois a marca ainda tinha uma presença forte por aqui. A Towner foi vendida em alguns países da com a marca Kia até 2005 [14] (opção que chegou a ser cogitada no Brasil, devido ao sucesso comercial). O jipe Rocsta foi substituído pelo Kia Retona em junho de 1998 e a Topic pela Grand Besta em 2000 [15].


FÁBRICA NO BRASIL

Anunciada em abril de 1996 [16] , foi a principal empresa a aderir ao regime automotivo especial para as empresas que se instalarem nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A futura fábrica seria feita na cidade de Camaçari, estado da Bahia, contou com incentivos governamentais. A empresa passou a se beneficiar da redução em 50% da alíquota de importação de veículos, ficando obrigada a compensar com exportações as importações que se beneficiaram dos incentivos fiscais. O custo da obra estava estimado em US$- 700.000.000, a fábrica teria a capacidade para produzir 60.000 veículos por ano dos modelos Towner e Topic [17]. O número de empregos diretos estava estimado em 2.000 empregados [18]. Infelizmente, a obra nunca ultrapassou o estágio inicial de terraplanagem.

No dia 08 de agosto de 1997 foi feito o discurso na cerimônia de lançamento da pedra fundamental da fabrica da Asia Motors do Brasil pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso [19], junto com outras autoridades políticas, embaixador da Coréia Sam Hoom Kim e o presidente da Asia Motors do Brasil José Tude. A previsão inicial era de que a fábrica começasse a operar em outubro de 1999 [20] .

A Asia Motors do Brasil (AMB) ofereceu uma joint venture para a Asia Motors Corporation (AMC), onde ela assumiria 51% da empresa brasileira e receberia o valor pendente. Mas a proposta nunca se consolidou, a Corte de Arbitragem Internacional provou que a Asia Motors Corporation nunca foi efetivamente controladora da Asia Motors do Brasil. A AMB ainda tem um dívida de R$ 475 milhões (em valores atuais) com a AMC por veículos importados que não foram pagos. A AMC deixou de existir oficialmente em 1999, quando foi totalmente absorvida pela Kia Motors. A dívida da AMB com o governo brasileiro está na faixa dos R$ 1,5 bilhão (valores atualizados ) [21].

O ex-sócio da empresa AMB, o sul coreano Chong Jin Jeon foi extraditado do Brasil para a Coréia do Sul em 2008, onde foi condenado a 10 anos de prisão por crimes de fraude, enriquecimento ilícito, gestão fraudulenta e suborno. No Brasil ele respondia a processos, na Justiça Federal de São Paulo, por lavagem de dinheiro e estelionato [22].


VENDAS NO BRASIL

Ano Nº de Vendas
2000
1999
1998 7.268*
1997 17.659
1996 15.819
1995 12.468
1994 5.487
1993 386

1998 (*): Números parciais, referentes ao total de vendas entre os meses de janeiro a maio.
Fonte: Abeifa (Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores)(*) 1998: Considerado apenas as vendas entre os meses de Janeiro a Maio [23].


REFERÊNCIAS

1) Towner oferece mais potência (02/05/1999)

2) Revista Rural (nº13, Novembro de 1998) Carro de “dupla aptidão”

3) Revista Quatro Rodas: Ed. 398, Setembro de 1993, pág. 142

4) Revista Quatro Rodas: Ed. 412, Novembro de 1994, pág. 143

5) Revista Quatro Rodas: Ed. 416, Março de 1995, pág. 141

6) Revista Quatro Rodas: Ed. 418, Maio de 1995, pág. 147

7) Revista Exame: Washington Armênio Lopes (03/01/1996)

8) Folha de São Paulo: Vans coreanas desafiam concorrentes com humor (27/02/1995)

9) Mecânica On-Line: A evolução faz parte dessa história ( Texto: Tarcisio Dias )

10) Folha de São Paulo: Segmento de vans ganha 3 concorrentes (08/06/1997)

11) Jornal A Notícia, Caderno Veículos: Bye-bye Brasil (19/04/2003)

12) Chana ocupará o lugar da Towner (29/08/2006)

13) Folha de São Paulo: Hyundai vence o leilão e fica com Kia e Asia (20/08/1998) Autor: Marcio Aith

14) Car Encyclopedia: Kia Towner

15) Diário do Grande ABC: Kia lança Besta “gigante” (02/05/2000)

16) Jornal do Commercio: Fraude na importação de automóveis (14/06/1998) Autor: Vladimir Calheiros

17) Folha de SP: Asia Motors vai instalar fábrica na Bahia (24/12/1996)

18) A implantação de montadoras no Brasil e os incentivos fiscais: Uma avaliação da política de desenvolvimento regional  (Texto: Nilton Vasconcelos e Francisco Lima C. Teixeira)

19) Biblioteca da Presidência da República: Discurso na cerimônia de lançamento da pedra fundamental da fábrica da Ásia Motors do Brasil

20) Folha de São Paulo: Kia instala fabrica de caminhões em Itu (18/07/1997)

21) Kia vence batalha na justiça e fábrica parece sair do sonho (04/09/2013)

22) Ex-sócio da Asia Motors é extraditado para a Coréia: (26/09/2008)

23) Histórico das Vendas Abeifa no atacado

24) Revista Quatro Rodas: Ed. 492, Julho de 2001, pág. 79

 

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